Fantasia que custa caro
- K Adler
- 11 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

Em todos os anos, o carnaval é um evento frequentado por pessoas de todas as idades: idosos, adultos, jovens e crianças. Por isso, em um mundo, onde se debate a cultura do estupro, o machismo e os grupos LGBT buscando respeito e direitos, nada mais interessante do que pegar relatos de pessoas e suas experiências pelo carnaval. Durante a jornada no bloco Galinhos – um dos mais conhecidos entre os adolescentes –, perguntei a algumas meninas e meninos o que achavam sobre o carnaval. O que pude perceber é a grande quantidade de pessoas que fazem o que os outros pedem apenas pela pressão que colocam em cima delas, sem que realmente tenham vontade de fazer. Três meninas e três meninos quiseram falar sobre o assunto (não revelei seus nomes para preservar sua identidade e não os expor na internet). Os depoimentos que consegui, foram:
"Alguns homens não respeitam. Uma vez, quando estava no bloco do Baby Doll de Nylon, eu estava ficando com um menino e, por esse simples motivo, um amigo dele achou que eu estava ficando com todos. Ele já chegou me agarrando, passando a mão em mim. Quando disse que não queria, ele ficou bravo e, ainda assim, não aceitou o fora com tranquilidade. Eu passei sufoco naquele momento."
"O que eu percebo é que no carnaval algumas pessoas não se controlam - ou não querem se controlar –, assim, algo que deveria ser divertido acaba se tornando caótico."
"Receber uma mãozada na bunda andando, ou alguém te agarrando já querendo algo a mais é normal, não adianta nem fingir que tem namorada ou que é lésbica, alguns homens não querem saber disso, muito menos da sua opinião, só querem satisfazer o desejo deles e pronto. Na maioria das vezes, melhor nem reclamar, só segue o bloco e finge que isso não aconteceu."
"Estava andando com meus amigos, estava só querendo curtir, quando a gente anda em bloco sempre tem o lance de todo mundo gritando e falando 'BEIJA, BEIJA, BEIJA'. Acaba que às vezes você não quer, mas, pela pressão e o ambiente que fica, você acaba beijando. Fiquei com um menino que beijava super mal e eu NÃO queria ter ficado com ele. Mas no final foi até engraçado, eu saí reclamando e outras pessoas que me escutaram concordaram comigo. Acho que fizeram isso com vários.” (risos)
"Já incentivei pessoas que não queriam se beijar com o grito de 'beija,beija'. Isso já virou normal nos blocos.”
"No último carnaval que eu fui (2016), meus amigos fizeram uma rodinha ao redor de uma menina, onde cada um deu tapas na bunda dela, um batia, depois o outro e por assim ia. Carnaval pra mim é desculpa pra beber e esquecer de si mesmo. Carnaval é pra gente solteira e que querem ficar com outras pessoas. Se não quer passar por isso, é pra ficar em casa. Se eu tivesse namorada, ela não iria pro carnaval porque eu sei o que acontece."
Espero que muitos vejam que o último depoimento é abusivo, machista e extremamente fora de época. Isso mostra a todos que o feminismo não é apenas um movimento sem propósito, pois mulheres feministas e homens que apoiam esse movimento, cada vez mais, vêm a conquistar uma imagem melhor e novos direitos para as mulheres. Ser proibida de frequentar algum evento por um namorado é extremamente incoerente e errado.
E concluímos que, mesmo com as lutas diárias por mais direitos na sociedade, as mulheres ainda participam do maior número de abusos, pois são vistas como objetos sexuais, enquanto homens possuem o direito de fazer qualquer coisa sem que haja consequências.
Abusos no carnaval eram coisas extraordinárias, fora do comum, mas, hoje em dia, tais abusos se tornaram ordinários, o que cria um sentimento de insegurança em tais locais de festa.
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