Precisamos falar sobre representatividade!
- Thais Oliveira e Isadora Rosendo
- 22 de mar. de 2017
- 5 min de leitura

Bate-papo com Sharlene Leite, princesa PLUS SIZE nacional de 2017.
O concurso MISS BRASIL PLUS SIZE, é um dos maiores concursos de beleza do país. Em 2017 o concurso atingiu sua quinta edição, sendo o principal evento de representatividade Plus Size do país. Sharlene Leite, professora de português e redação foi eleita a segunda princesa nacional de 2017, além de já possuir o título de Musa Plus Size SPFC. Sharlene também é editora do blog Mulheres Destemidas, aonde aborda temas como amor próprio e moda Plus Size.
Com o objetivo de nos informarmos melhor sobre o universo dos concursos de beleza, moda Plus Size e representatividade feminina, batemos um papo com a modelo na última segunda-feira (13). Confira:
FU: O que te levou a se inscrever no concurso MISS BRASIL PLUS SIZE?
SL: A minha história. Eu sempre fui muito envolvida com o discurso feminista, com a discursividade de empoderamento da mulher. Em 2012 eu descobri que tinha câncer na tireoide e engordei bastante. Durante o processo, escutei coisas horrorosas, como “Como você deixou que isso acontecesse com você?” e “Por que você não se cuida?”. Então, eu me senti excluída socialmente em decorrência do meu corpo e quando fui descobrir, estava doente. Nenhuma dieta que eu fizesse adiantava por causa de minha doença. Como eu sempre fui uma mulher magra, nunca percebi como era difícil se vestir estando acima do peso. Então, vi no concurso a possibilidade de representatividade. Me inscrevi nesse concurso porque acredito ser uma pessoa que pode ajudar no empoderamento da mulher.
FU: Qual é a importância da representatividade Plus Size na sociedade?
SL: O Plus Size é muito importante para a desconstrução dos indivíduos como parte do fetichismo de comércio. Atualmente percebemos que, as pessoas, dentro da modernidade líquida e da perspectiva de consumo, se tornam objetos de consumo. Ou seja, existe uma padronização que remete a homens e mulheres. Porém, para a mulher, essa padronização sempre foi mais abrasiva. Ou seja, a mulher precisa ter determinado corpo para que ela se considere bonita. Se você pega como referência apenas o padrão “magro”, quase todas as mulheres são excluídas. A representatividade é muito importante para que uma pessoa se sinta bem no mundo, e para reverberar que não somos mercadorias.
FU: Qual é a sua relação atual e passada com seu corpo?
SL: Boa pergunta (suspiros). Eu sempre cuidei bem do meu corpo em questões de saúde e estética. Como mulher inserida nesse contexto, sempre fui preocupada com isso. Quando engordei eu me vi sem controle e percebi essa segregação social que existe em relação a mulheres gordas. Acabei percebendo que a sociedade atual incita a condenação do próprio corpo. Hoje, o padrão fomenta o ódio ao próprio corpo, como se o amor próprio não fosse aceito. Mas hoje, eu percebo que o meu corpo faz parte da minha história. Cada marca do meu corpo faz parte do que eu vivi. Então o discurso Plus Size tem que ser muito bem esclarecido, já que não é um discurso de apologia a obesidade. Eu entendo o discurso Plus Size como empoderador a todas mulheres que não atendem um certo padrão. Não é apenas um movimento de mulheres gordas.
FU: Qual é a sua opinião sobre concursos de beleza em geral?
SL: Um concurso de beleza como o Plus Size é empoderador pois mostra uma outra representatividade. A moda em geral está com uma possibilidade de reverberar identidade. Existir apenas um tipo de concurso de beleza é maléfico, porque a referência é só uma, e as pessoas não são as mesmas. Já me perguntaram se eu acho que um concurso de beleza ou a moda no geral vai contra meu discurso feminista, mas eu acho que não. Pois a moda é um jeito de legitimar a minha identidade. Por exemplo, se a moda Plus Size não for fomentada, uma determinada adolescente gorda vai acabar se vestindo com roupas senhoris. Ela não poderá usar o que outras jovens usam. Ela não vai poder afirmar sua identidade. Toda roupa que eu escolho diz respeito a minha identidade. Então, quanto mais democrática for a moda, maior o direito de se manifestar como indivíduo através da vestimenta. Portanto, ter um concurso de beleza que limita e impõe padrões pode ser maléfico, sendo necessário outras formas de manifestação. Para mim, o ideal seria um concurso de beleza que não determinasse estereótipos. Mas acredito que o meu concurso, o Plus Size, desconstrói padrões. Acredito que é um concurso de resistência.
FU: Essa foi a sua primeira vez em um concurso de beleza?
SL: Não, é a minha segunda vez. Meu primeiro concurso foi como musa Plus Size de time de futebol. Achei extremamente desconstruidor, pois as meninas que representam times de futebol geralmente são super padronizadas. Ganhei o concurso como musa Plus Size de São Paulo. Participei pela perspectiva do discurso também, discurso de que mulheres gordas também podem ser bonitas e também merecem representatividade. O meio do futebol é um meio muito sexista no geral, mas resolvi participar justamente por causa disso, por causa da desconstruição.
FU: Como você vê a moda Plus Size no DF?
SL: O DF é um dos lugares mais preconceituosos em relação a pessoas que estão acima do peso. Inclusive, já passei por situações constrangedores e preconceituosas em lojas e shoppings da cidade. Hoje, há no Brasil um avanço em relação a moda Plus Size. Em alguns shoppings de Brasília vai haver pelo menos duas lojas que vendem roupas de qualidade em um tamanho maior, mas em shoppings mais elitistas vai haver apenas uma ou nenhuma. Hoje eu compro roupas, na maioria das vezes, por internet. Tenho várias indicações, sobretudo para adolescentes. Uma de minhas recomendações se chama Maria Abacaxita, que é uma moda para jovens que estão acima do peso e podem usar uma roupa mais moderna e menos senhoril.
FU: Por fim, o que você diria para mulheres mais jovens que são consideradas plus size e possuem problemas de aceitação com o próprio corpo?
SL: A experiência de aceitação do próprio corpo é individual. A perspectiva de representatividade é importante justamente por isso, pois não tem como eu apenas dizer “Se aceite” para uma mulher com problemas de auto-estima e aceitação. Essas jovens precisam se identificar em outra pessoa, precisam de uma referência. Uma mulher não se aceita geralmente por ter referências diferentes de seu padrão. Eu diria, para jovens que não se aceitam, para pesquisarem sobre o segmento Plus Size, para descobrir Plus Sizes internacionais, para que elas comecem a descobrir que há um mundo fora do padrão e que elas não possuem um preço. Por não ter preço, elas não precisam se adequar a nenhuma padronização. Eu falaria para essas mulheres que elas não precisam virar parte do fetichismo comercial, como diz o discurso da modernidade líquida de Bauman.
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