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Onde está a água?

  • Foto do escritor: Rodrigo Pavan
    Rodrigo Pavan
  • 11 de abr. de 2017
  • 6 min de leitura

A água é uma das substâncias químicas mais importantes para a vida. Conhecida por ser um solvente universal, a água faz parte do dia a dia da vida das pessoas. O corpo humano é constituído por 70% de água, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda beber cerca de dois litros dela diariamente.


Além disso, a água é utilizada para a produção de bens industrializados. Por exemplo, uma xícara requer 140 litros para ser fabricada – esse consumo da substância para fazer produtos é denominado de gasto de água virtual. É importante considerar também que, apesar de o nosso planeta possuir cerca de 71% de água na sua superfície, a água para consumo humano e para fins econômicos é um recurso extremamente escasso em função de 97% da água disponível no planeta Terra ser salgada, restando apenas 2% de água doce e 1% em geleiras.


A preocupação com a disponibilidade de água no Brasil se agravou no ano de 2014, sobretudo na região Sudeste. Decorrente de um conjunto de falhas de planejamento somado a um período longo de estiagem, uma verdadeira crise da água se instaurou no País. Os níveis dos reservatórios de abastecimento de grandes cidades passaram por uma significativa queda, sobretudo na cidade de São Paulo, que passou por um dos momentos mais dramáticos de crise hídrica de toda a sua história. A causa da crise da água é, em parte, de ordem natural, pois, apesar de o Brasil ser o país com a maior quantidade de água per capita do mundo, a distribuição geográfica da água não é homogênea. A região Norte, por exemplo, possui cerca de 70% das reservas nacionais e, simultaneamente, detém uma das menores densidades demográficas. Estudos do Serviço Geológico do Brasil evidenciam que apenas 1% da vazão do Rio Amazonas seria suficiente para atender em mil vezes o que demanda a cidade de São Paulo. Contudo, especificamente onde existem menos reservas de água, encontra-se a maior parte da população. Nessa região também acontece grande parte das atividades econômicas, sejam agrícolas, comerciais ou industriais. Por consequência, os sistemas de abastecimento são cada vez mais sobrecarregados e tornam-se vulneráveis e insuficientes a qualquer período mais longo de seca. E esse período chegou!


Adicionalmente, há ações do homem que agravam o cenário de escassez hídrica. As florestas são essenciais para a produção de água, pois a cobertura florestal permite a água penetrar corretamente nos lençóis freáticos. Com os avanços desenfreados de devastação de florestas nativas, sobretudo em regiões de mananciais, nas margens dos rios e reservatórios, por consequência, ocorre a diminuição na quantidade de água disponível. Será que todos sabem disso? Soma-se a esse cenário a revisão do Código Florestal em 2012, sancionado após grande debate. A versão do Código aprovada autoriza a redução das Áreas de Proteção Permanente para as matas ciliares (que protegem as margens dos rios) para 15 metros. Antes era obrigatório o dobro. Muitos especialistas da área ambiental apontavam os riscos e a importância da conservação dessas áreas que influenciam a produção de água e lutaram veementemente contra. Ainda assim, o projeto foi sancionado. Vale destacar que importantes organizações de proteção ao meio ambiente, como SOS Mata Atlântica, The Nature Conservancy e Fundação Grupo Boticário, têm investido em ações importantes na busca de conservação de áreas-chave para a produção de água em diversas regiões. Essas organizações investem em iniciativas como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) de proteção de nascentes, que premia financeiramente proprietários de terra que conservam, além do exigido por lei, a mata nativa em suas propriedades.


Um outro fator são as obras de infraestrutura hídricas. Nesse caso, importantes obras estruturantes têm sido postergadas ou têm avançado lentamente. Por exemplo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) não investiu nem 37% do previsto em obras em seu Plano Metropolitano de Água. O sistema hídrico São Lourenço, previsto para se iniciar em 2011, com o objetivo de levar água do interior até a região metropolitana de São Paulo, teve início em 2014 e a previsão de finalização da obra é apenas para o final de 2017. Significa que, se a obra tivesse se iniciado e sido concluída no prazo previsto, provavelmente a situação de grave crise que se instaurou em São Paulo seria amenizada.


No Distrito Federal (DF), em que é localizada a capital do país, o cenário de crise hídrica se intensifica. Uma das principais causas é a ausência de investimentos em melhoria e expansão da infraestrutura hídrica. Nenhum investimento expressivo em obras de captação de água foi feito na região há mais de 16 anos.


É importante frisar que não basta apenas fazer obras, adequar leis e preservar as florestas, existe um grande desperdício tanto na distribuição e quanto no consumo de água. De um lado, os sistemas de dutos de transmissão da água tratada – que transitam desde as empresas de Saneamento até as torneiras dos consumidores finais – apresentam perdas graves que chegam a 25% dos recursos disponibilizados. Por outro lado, os indivíduos não utilizam a água de forma eficiente. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa tem necessidade de consumir em média 110 litros por dia. Apesar de aparentar uma quantidade elevada, esse uso é razoável. Um banho de 2 minutos consome, em média, 12 litros de água. Um indivíduo que tem por hábito refletir sobre a vida enquanto toma banho e alonga o período embaixo do chuveiro por 16 minutos irá consumir aproximadamente 96 litros de água. Se tomar 2 banhos ao dia, superou em quase o dobro a média internacional de 110 litros. Além disso, deve-se contabilizar o uso da água para lavar as mãos, lavar a roupa, cozinhar, escovar os dentes, dar descarga, além dos dois litros, em média, para ingerir. Ao se colocar no papel todos esses gastos, percebe-se o elevado volume de consumo e, muitas vezes, o potencial de economia ou redução de desperdícios. E como podemos mudar hábitos e rotinas para o uso mais racional da água? O professor Mario Diniz de Araújo Neto, especialista em assuntos hídricos da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “a educação é a chave para evitar a crise hídrica no Distrito Federal”. A educação se inicia em casa, pelo exemplo dos pais, e na escola, pela orientação dos professores e dos colegas. Ao se sensibilizar uma criança, cria-se um adulto mais consciente no futuro.


Assim como aconteceu em São Paulo, o Distrito Federal está passando por uma crise hídrica recente. No mês de março de 2017, o governo distrital decretou rodízio de água. Vale lembrar que a revista ÉPOCA publicou uma matéria, em 2015, apresentando um mapa das possíveis regiões que poderiam sofrer com a falta de água nos anos seguintes. O Distrito Federal estava presente no mapa! A Agência Nacional das Águas (ANA) informou na época que, dentre as 23 cidades da região metropolitana de Brasília, apenas 5 podiam se considerar com status de abastecimento estável. As demais 18 cidades requerem investimentos de ampliação da estrutura de abastecimento estimados em R$ 862 milhões.


Então, quais fatores levaram o Distrito Federal a chegar nessa circunstância? Trata-se de um conjunto de razões somadas que conduziram o DF a um contexto de crise. O caso de Brasília se assemelha ao de São Paulo. As lições (e aprendizados) existiam, mas o dever de casa não foi feito. O DF passou por um período com um quantitativo de chuvas menor do que o esperado e os reservatórios que abastecem a região sofreram uma queda vertiginosa. Além disso, a população tem crescido a cada ano; há um crescimento urbano ascendente, enquanto o sistema de abastecimento – ou seja, a capacidade de fornecer água – se manteve. Um outro fator já citado (e que está presente no caso do DF) é que as nascentes e rios foram tomados pelo conglomerado urbano. Matas ciliares foram devastadas e contribuíram para a redução da capacidade de absorção da água da chuva. Iniciativas e investimentos de proteção e recuperação das nascentes precisam ser priorizados. Para conter a crise, o Governo do DF e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – Caesb anunciaram investimentos na ordem de R$ 765 milhões em obras de ampliação dos sistemas de abastecimento. Contudo, iniciativas de preservação não foram anunciadas.


Em síntese, as razões do racionamento de água estão longe de ser climáticas. Trata-se de um problema complexo que deve, minimamente, envolver: i) medidas de conservação do meio ambiente e expansão sustentável dos conglomerados urbanos; ii) evolução e manutenção da infraestrutura hídrica nas cidades, contemplando captação, escoamento e preservação de recursos hídricos; ii) uso eficiente da água, evitando desperdícios nos dutos condutores entre a Companhia de Saneamento e as residências, indústrias e comércios consumidores; e, sobretudo, iv) sensibilização da população para uso racional dos recursos hídricos para consumo humano, que estão cada vez escassos no planeta. Portanto, as lições já sabemos, agora só nos resta aprender.


 
 
 

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