Tá tudo bem ir mal na prova
- João Carlos Nepomuceno
- 11 de abr. de 2017
- 3 min de leitura

Há algumas semanas, eu vi no Facebook um vídeo do Prince Ea. Alguns dias depois disso, esse vídeo estava no grupo da minha sala. Alguns momentos depois disso, eu descobri que alunos de outra turma também tinham assistido ao vídeo. E alunos de outras escolas também.
O vídeo era sobre um homem (representado pelo próprio Prince Ea) que se apresentava em um tribunal, processando a escola. Ele tinha provas. Fatos. Mostrou imagens de coisas de cem anos atrás e imagens dessas coisas hoje em dia. Observa-se que a sala de aula é a mesma desde sempre. Ele nos diz que o próprio criador do estilo de provas aplicado nas escolas disse que aquelas provas eram cruéis demais para serem aplicadas. Prince Ea diz também que a escola tenta fazer peixes escalarem uma árvore.
O que mais me assustou não foi que tudo o que ele disse é verdade. Não foi que tudo bate com a realidade. Mas que as pessoas que viram o vídeo foram, em sua maioria, alunos. Claro, a maioria dos meus conhecidos são alunos. Mas eu não vi um adulto comentar – mesmo que não fosse comigo – sobre esse vídeo.
Veja só, as pessoas são diferentes. Elas são motivadas de maneiras diferentes. Elas possuem diferentes habilidades, diferentes afinidades. Alguns gostam de rotina, outros não. Alguns estão de bem com a vida, outros têm a vida privada caindo aos pedaços. Uns não fazem mais nada além de ir à escola. Outros dividem o tempo com algum projeto de vida. Ou com alguns projetos de vida, até mesmo com alguns (vários) hobbies.
Conheço pessoas que gostam de ler. Outras que não leem, porque não possuem tempo, mas já leram muito quando o tinham. Conheço pessoas que odeiam ler.
Conheço atletas. E sedentários também. Alguns atletas que odeiam a vida regrada que levam. Alguns sedentários que se esforçam para virar atletas e outros que estão muito bem como estão, obrigado.
Conheço gente que gosta de desenhar. Uns levam isso a sério. Para esses, desenhar vai ser um trabalho, uma fonte de renda. Uns até desenham muito bem, mas só porque desenhar é bom e os acalma. Alguns simplesmente gostam de rabiscar algo em um momento de inspiração, mesmo que não fique tão bom. Existem os que não gostam de desenhar também.
Tenho amigos músicos. Entre eles, alguns querem seguir carreira e outros só tocam porque se sentem bem fazendo isso. Tenho amigos que não ligam muito para música. Tenho amigos que gostam mais de um gênero do que de outro. Tenho amigos que gostam de todos os gêneros musicais.
Entendeu? As pessoas são diferentes, mesmo aquelas que são parte de um mesmo círculo de amizades.
Ainda assim, você faz parte de uma sociedade que é dividida em duas partes: aqueles que vão à aula durante a manhã, e os que vão durante a tarde (alguns até estudam no horário noturno, mas isso é um pouquinho mais para frente). Adultos te entregam horários. Apresentam professores. Dão tarefas. Fazem você estudar para provas que não comprovam a aprendizagem de um conteúdo, mas, sim, se você foi capaz de decorar e se lembrar de tudo o que eles te falaram na sala de aula. Uniformizam. Penalizam por atrasos.
O desempenho escolar é medido de maneira numérica. E nem sempre os resultados correspondem à realidade. Algumas vezes, você estudou. Você até mesmo aprendeu a matéria, não só decorou, mas acabou por fazer a prova em um momento ruim. Não estava passando bem, ficou nervoso, teve um problema. Não vai bem na prova. E é julgado como alguém incapaz.
Não estou te dizendo para renegar ao sistema em que você vive. Você nasceu aqui, neste país, debaixo dessas regras. Para mudá-las, você vai ter que passar por tudo isso. É o único jeito. Desistir porque você não se adapta nunca vai mudar as coisas.
Estou te dizendo para entender que nem sempre ir mal na prova te faz alguém ruim. Idiota. Incapaz.
Antes de tudo, você é um ser humano. Sua vida nunca vai ser focada em uma coisa só. Centenas de coisas acontecem ao mesmo tempo. Algumas nem acontecem na sua vida, mas te afetam. Você é social, tem amigos. O que os afeta muitas vezes te afeta também. Você é uma pessoa completamente diferente dos outros bilhões de seres humanos já existentes. Você faz mais do que só ir à escola.
Algumas vezes, você não está bem. Você só não está no seu 100% para fazer uma prova. Muitas coisas podem acontecer para mexer como o seu emocional ou com a sua força de vontade. Alguém próximo pode ter morrido, pode ter sido um término, seu responsável perdeu o emprego. E aí? Aí tá tudo bem ir mal na prova.
Comments