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Greve dos professores

  • André Garrido
  • 30 de jul. de 2017
  • 4 min de leitura

A greve

A paralisação começou em 15 de março e afeta mais de 450 mil alunos da rede pública. A greve faz parte de uma série de manifestações, agendadas pelos profissionais da educação em todo o país, contra a Proposta de Emenda Constitucional nº 287/2016 (PEC da Previdência). O documento estabelece novas regras para a aposentadoria, como a exigência de idade mínima de 65 anos para o recebimento integral do benefício, além de 49 anos de contribuição com a Previdência Social.

O ato foi proposto pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e teve adesão da categoria no DF durante assembleia geral em 13 de fevereiro. Além da pauta nacional, o Sinpro-DF delimitou outras questões como tema para a mobilização. Entre elas, está o cumprimento do Plano Distrital de Educação (PDE) e a reivindicação do pagamento de valores e benefícios ainda não recebidos ou atrasados.

Correio Braziliense, 15 de março de 2017.

Entrevistada: Isabel Cristina Campos de Andrade; Servidora pública há 19 anos na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.

O que a motivou a participar do movimento grevista?

É histórico, em nossa categoria, que devemos ter um enfrentamento com todos os dirigentes em busca de melhores condições de trabalho e aumento nos vencimentos. Em toda a nossa história, nenhum governante apresentou propostas de reajuste salarial para a categoria, sem a mobilização dos docentes.

E qual é a reivindicação desta greve de 2017?

Lutamos pelo nosso reajuste, que foi motivo de greve em 2015, e recebemos a promessa do Governador Rollemberg de que seria pago em outubro de 2016. E, até a presente data, não recebemos nem calendário com pretensão de pagamento. Lutamos também pelo pagamento aos professores que aposentaram em 2016 e 2017, que não receberam os vencimentos aos quais têm direitos depois de mais de 25 anos de dedicação ao magistério. Lutamos contra o projeto de Terceirização e Reforma da Previdência. Queremos ter o direito à aposentadoria e a usufruir da licença prêmio. Lutamos também por qualidade de trabalho. Para reconhecer uma escola pública do Distrito Federal, basta procurar pelo prédio mais feio do setor. Não há investimento para melhorias nas estruturas das escolas públicas; a falta de material e condições de trabalho são problemas frequentes. E entre outras revindicações antigas, como a isonomia salarial.

Por que não é uma luta de todos? Percebemos que muitos não participam do movimento grevista.

É muito difícil, em nossa categoria, a participação de todos; não é por não acharem a causa justa, mas por vários motivos. Dentre eles destaco:

  • Os professores de contrato temporário, que foram covardemente ameaçados por uma circular, assinada pelo Secretário de Educação, de devolução dos profissionais que fossem participar do movimento.

  • Os professores em cargos comissionados na função de diretor e vice não podem participar do movimento, por terem a responsabilidade de guarda do patrimônio e de garantir a funcionalidade das escolas em respeito aos colegas que não participam do movimento.

  • A maioria do nosso quadro profissional são mulheres que ainda aceitam a submissão e não podem participar do movimento, por serem, de forma velada, controladas por um pensamento machista que não lhes dá o direito de luta.

  • A reposição, comprometendo os finais de semana e as férias, tem um grande peso na decisão em participar do movimento, por alterar toda a rotina e planejamento familiar.

  • O corte de ponto, comprometendo muitas vezes a única renda familiar.

  • E a garantia dos direitos adquiridos colocam alguns em posição de acomodação.

E como fica o funcionamento das escolas com o fim da greve? A escola trabalha com a unificação do calendário?

Não. Existem dois calendários: os professores que não aderiram ao movimento encerram suas atividades no calendário que foi aprovado no início do ano sem alterações. E os demais seguem o calendário com ajustes para o cumprimento dos 200 dias letivos, ao qual o aluno tem direito.

Nas atividades em comum, buscamos uma data que atenda a todos de forma a satisfazer a comunidade escolar.

E não fica um clima de rivalidade entre grevistas e não grevistas?

Buscamos sempre respeitar a todos. Usamos o bom senso e temos o foco que nosso colega não é o nosso inimigo. Colocamos o trabalho com o aluno em primeiro lugar.

E qual é a postura dos pais?

Buscamos esclarecer os pais sobre os motivos que nos levam à greve, procuramos tê-los como aliados. Se perguntarmos a qualquer cidadão o que acha dos salários dos professores, todos vão dizer que é injusto. Mas, quando estamos em greve, são direcionados pelo mídia em nos atacar, não apoiando o movimento, pois estão sentindo na pele que seus filhos estão sendo prejudicados.

Nós professores temos consciência deste prejuízo, mas temos também a responsabilidade de passarmos exemplos de cidadania.

Para ter o respeito e o apoio dos pais, assumimos o compromisso da reposição com responsabilidade.

E ainda muitas categorias vão de carona em nossa greve, pois o benefício dado a uma categoria ganha força jurídica para ser estendido aos demais.

E todos fazem essa reposição de forma responsável? E quem fiscaliza a reposição?

Nenhum diário é fechado sem o cumprimento dos 200 dias letivos, então teoricamente todos fazem a reposição. Primeiro, a nossa consciência e a ética de cada profissional, mas a Secretaria de Educação, as Regionais de Ensino, a direção, juntamente com o chefe de Secretaria, são responsáveis legais pelo controle, mas cabe a cada aluno e aos pais observarem o cumprimento dos 200 dias letivos.

Por que as camisetas são vermelhas? Existe algum vínculo com o PT – Partido dos Trabalhadores?

O sindicato apresenta uma postura de esquerda. Acredito que cada professor tem sua ideologia partidária, não sendo influenciado por discursos de sindicalistas, mas tendo opinião formada a respeito de suas escolhas políticas, vivemos no Brasil, um país rico em sua diversidade.


 
 
 

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