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Prisioneira do seu próprio corpo

  • Elisa de Oliveira
  • 1 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

E hoje, por alguma razão desconhecida, ela estava mais agitada. Seu coração batia a mil por hora, ela não se calava durante um só segundo, sua respiração estava ofegante e sua perna já estava doendo de tanto tremer. Tentava pensar sobre o que poderia ter causado aquilo, mas as únicas coisas que passavam em sua cabeça eram coisas ainda não concluídas com prazos de validade próximos.

Ela estava cansada, há noites não dormia, mas não adiantava fechar os olhos. Tentou ler, mas perdeu-se no abismo das palavras daquela página sem nexo de um livro que ainda estava pela metade sendo que ela já o tinha a quase meio ano. Controlar a respiração era inviável! Seu corpo tinha a necessidade de extravasar, de se mexer, mas ela já estava cansada demais e só queria sossego! Sua noite aparentava ser longa e demorada, seguida de um dia cansativo e agitado, seguido de outra noite sem conseguir dormir, seguida de outro dia cansativo e agitado. E assim ia aquele ciclo vicioso...!

Para muitos, ela era apenas inconveniente e estava tentando se mostrar. Mas ela sabia, ela sabia que não era isso, ela tentava se calar e se acalmar. Não importa quantas pílulas de calmante ou litros de suco de maracujá ela tomasse, aquilo iria persegui-la pelo resto de sua vida. Por muitas vezes, tentou controlar suas palavras, mas parecia que sua boca era um buraco pelo qual seu cérebro descartava pensamentos vazios que planavam em sua mente. Não é nem preciso citar que ela sofria com isso... por quantas vezes não quis permanecer calada e quieta em situações delicadas mas não conseguiu; por quantas vezes não tentou se acalmar ou apenas ficar menos agitada mas seu corpo tremia como um liquidificador; quantas vezes não tentou focar mas se perdeu no vasto infinito de seu pensamento! A única coisa que ela queria era paz! Por mais que gritasse por ajuda, ninguém a entendia! Não importa o quanto ela tentasse, isso sempre esteve presente em sua vida.

Desde de pequena fora uma criança agitada e incontrolável, na adolescência sofreu muito com isso e as consequências eram que nem avalanches de neve que cresciam cada vez mais e mais. Não importa quanto tempo passe, seja hora seja dia, ela nunca estará na calmaria! Mesmo que ela tente, seu pensamento não permite! Hora cheio hora vazio, mas nunca parado! Respira mas não pira, inspira mas não pira, respira mas não pira, inspira mas não pira... vish, pirou! Sua ansiedade vinha acompanhada de insônia, sua insônia vinha acompanhada de nervosismo, seu nervosismo trazia fome mas ela não conseguia comer, logo, seu nervosismo trazia dor. Esse ciclo viciante não parava.

Lendo isso, parece que durou algumas horas, mas pense nela! Nela! Ela! Aquela menina alegre e sorridente, que consegue na mesma frequência em que tira um sorriso, tirar alguém do sério! Aquela menina que já se cansou de pesquisar métodos para tentar mudar essa realidade! Aquela menina que se treme! Aquela menina que chora! Aquela menina que respira ofegante! Aquela menina que não consegue se controlar...

Hoje, por alguma razão desconhecida, você tá lendo isso. Mas mesmo assim, você não vai entender que esse hoje é todo dia para ela! Unha roída, pele arrancada, pelos puxados, cabelos que caem, bochecha mordida, lábio que sangra, cadernos rabiscados, coisas que giram, coisas que fazem barulho, coisas que "acalmam". Ela tenta gritar! Mas será que as pessoas realmente param pra escutar? Será que outras pessoas são que nem ela? Será que você é que nem ela? Será que eu sou que nem ela? Será que eu sou ela? Ah! Mas que joia, agora mais uma pessoa está com essa paranoia.... A agitação continua, sua ansiedade aumenta, seu desconforto extrapola os limites! Hoje, assim como muitas pessoas, ela só queria conseguir fechar seus olhos e dormir. Mas mesmo tentado, ela não conseguiu...

E pra se ocupar no tempo em que esta desocupada? O jeito é tentar esvaziar sua mente! Não consegue desenhar pois é perfeccionista e se irrita quando algo não sai perfeito. Não consegue dançar pois esta exausta o suficiente para mal conseguir se levantar. Não consegue ler pois as palavras são apenas letras juntas que não expressam significados. Não consegue escrever pois suas ideias se perdem em um tsunami de informações entrelaçadas e bagunçadas! Ninguém a entende e mesmo se entendesse, não adiantaria, pois ela não entende a si própria!

E hoje, por alguma razão desconhecida, ela se cansou! Cansou de sofrer com isso! Cansou de se mutilar com sentimentos que só causavam dor, tanto emocional quanto física! Cansou de tudo nessa vida! E hoje, por alguma razão desconhecida, depois de tentar todos os métodos possíveis para tentar se acalmar e se cansar de tudo, ela parou. Parou seu corpo, sua mente, seu coração, sua respiração. Tentou parar sua alma, mas esta já havia se perdido. Tentou parar seu ânimo, sua ansiedade e sua angústia. E vendo que nada ia melhorar, parou de tentar. Mas não adiantaria, pois tudo se repetiria...


 
 
 

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