En Pavant
- Rodrigo Pavan
- 11 de out. de 2017
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2017

Há pouco mais de dois meses, o Brasil passou por uma reforma trabalhista. As alterações realizadas por nosso governo dizem respeito a férias, jornada de trabalho, remunerações e planos de saúde. Como é de praxe, houve manifestações contrárias e a favor, cada qual defendendo suas posições e/ou ideais políticos. Mas o fato é que elas foram sancionadas pelo Presidente Temer e estão aí, doa a quem doer. Tanto quanto no Brasil, as leis trabalhistas foram tema também na Europa, mais precisamente na França. O recém-eleito Presidente Emanuelle Macron, em uma de suas primeiras medidas governamentais, propôs mudanças na legislação trabalhistas. Após inúmeras reuniões com sindicatos e lideranças tanto governamentais quanto trabalhistas, o texto ficou pronto e, no dia 25.09.2017, foram sancionadas. O que chamou atenção no país das ideias Iluministas foram as inúmeras manifestações contrárias às reformas. O ponto de encontro dos manifestantes na capital francesa foi a Praça da República, um palco conhecido pelos parisienses tanto para esse tipo de manifestação como também para comemorações patrióticas e homenagens, como ocorreu após os ataques terroristas ao Charlie Hebdo e à casa de shows Bataclán. Nos primeiros meses de seu governo, Macron enfrentou não só lideranças trabalhistas - as quais o chamaram de nazista (termo que virou moda para indicar quem é conservador) - senão também o maior sindicato patronal da França: o Movimento das Empresas da França (Medef). Dentre as medidas propostas pelo governo, está a facilitação das demissões por razões econômicas, o que ajudaria as empresas ao dar-lhes o direito de demitir trabalhadores pagando menos indenizações. Outras, segundo o governo francês, ajudariam a diminuir o desemprego, como as condições propostas para o CDD (Contrato de Duração Determinada). Se essas medidas darão certo só o tempo - e só ele! - poderá dizer. O presidente francês, inúmeras vezes, discursou a favor de suas medidas, e um discurso chamou a atenção. Foi feito durante uma visita à Grécia (um país arrasado pela crise econômica, o qual tem hoje um dos maiores índices de desemprego na Europa). Macron chamou os manifestantes contrários às reformas de “Fainéants”. Ao ler essa expressão, lembrei que já tinha lido isso. Mas quando? Continuei procurando mais informações sobre o termo e, ao me deparar com uma ótima reportagem da jornalista Alice Devely, do jornal francês “Le Figaro”, encontrei a resposta. O título da reportagem é: “D’où vient le mot ‘fainéant?’” (tradução: De onde vem a palavra “Fainéant?” Voilá! A explicação é simples: essa expressão é a contração do verbo FAIRE (fazer em francês) com a palavra NÉANT (nada). “FAZER NADA”!!! A palavra nasceu no século XIV e deriva de outra palavra - “FEIGNANT” - que é traduzida para o português como “fingido” ( do verbo FEINDRE, fingir). Foi aqui que me recordei da situação em que já a tinha visto: nos estudos que tratam dos Merovíngios, primeira dinastia dos Francos, os quais governaram o Reino de 448 a 751. O destaque dela é o Rei Clóvis, que se converteu ao Cristianismo e assim deu início à união entre o governo na França e a Igreja Católica. Mas, seus descendentes, principalmente os últimos, não tiveram tanto sucesso como ele. Os derradeiros reis merovíngios os historiadores os classificamos como “Os Reis Indolentes”ou, num bom francês, “Les Rois Fainéants”. Eis a bendita palavra! E fez total sentido. No período final da dinastia, quem de fato governava o reino eram os chamados “Prefeitos do Palácio” (Maires du Palais), também conhecidos como “Majordomus”, que se aproveitaram da ausência política dos reis merovíngios, os quais estavam “cansados” da alta carga que o título trazia. Assim, o poder foi passando para a mão dos prefeitos do palácio. Um nome de destaque dentre os Majordomus, para exemplificar o período, foi o de Carlos Martel. Foi ele, e não o Rei Thierry IV, que venceu os muçulmanos na famosa Batalha de Poitiers (732), impedindo, assim, que a invasão muçulmana chegasse ao território da atual França. Seu filho, Pepino, o Breve, é o majordomus que destrona o último rei merovíngio (Childerico III) e se proclama rei, dando início a uma nova dinastia: a dos Carolíngios, cujo nome de maior importância é o de seu sucessor: Carlos Magno.
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